A inusitada última vitória de Piquet

Vamos voltar a 02 de junho de 1991. O cenário até então apontava um campeonato de domínio da McLaren e Senna que venceram as quatro primeiras corridas daquele ano. Contudo, a Williams já mostrava velocidade e a despeito dos problemas de confiabilidade, a equipe dominou a segunda parte do ano. Uma mostra do que viria a ocorrer nos foi apresentado no GP do Canadá. Lá, a equipe Williams cravou pole com Patrese e fechou a primeira fila com o Mansell. Logo na largada o Leão ultrapassou o companheiro de equipe e disparou. Atrás da dupla vinha Senna. Seu companheiro de McLaren, Berger, caiu pelas tabelas e foi o primeiro a ser ultrapassado por Piquet que largou apenas em oitavo. Após a manobra sobre o austríaco, Piquet ultrapassou seu companheiro de equipe e compatriota, Moreno, se estabelecendo na sexta posição. O que lhe renderia um ponto na época.
 


Mas as coisas começaram a dar certo para Piquet. A dupla da Ferrari, Alesi e Prost, abandonaram e o Tricampeão pulou para o quarto lugar. Pouco depois, foi a vez de Senna. Posteriormente, foi a vez de Patrese enfrentar problemas no potente, mas pouco confiável motor Renault. O italiano teve que passar pelos boxes e voltou muito atrás.


Com 50 segundos de desvantagem para o líder, Mansell, Piquet já se contentava com o segundo lugar. Ainda mais quando o inglês abrira a última volta.

Mas lembre-se que no primeiro parágrafo eu falei sobre os problemas de confiabilidade da Williams e podemos incluir neste problema o sempre trapalhão "Red Five". Já comemorando e acenando para o público eis que, após o Hairpin, o carro de Mansell começa a se arrastar faltando apenas uma curva para a bandeirada. Ninguém parecia acreditar!!!


Giorgio Ascanelli, na época engenheiro de Nelson Piquet, na Benetton, em entrevista a Livio Oricchio disse: “Como poderia me esquecer, Nigel acenava para a torcida, na arquibancada, já se sentia o vencedor”, diz rindo. “Eu comecei a gritar no rádio, vai Nelson, vai Nelson, Mansell ficou no hairpin. E Nelson me pediu para parar de gritar porque já havia visto a Williams”. E continua: “Fizemos uma festa. Nelson nos fez rir muito. Não dá para falar tudo o que disse sobre Mansell e sua esposa. Deixou claro que ganhar daquela forma, em cima de Mansell, era especial.” O tema Piquet parece entusiasmar Ascanelli. “Eu estava começando na Fórmula 1, ou ao menos não tinha a experiência de Nelson, já três vezes campeão do mundo. Aprendi muito com ele. Nos meus 27 anos de automobilismo nunca convivi com alguém da sua capacidade técnica, inteligência. Dizíamos dele hard worker, hard player. Nelson trabalhava duro e ao mesmo tempo era possível se divertir muito. Não tinha papas na língua.”


Outra figura importante do staff da Fórmula 1, Dickie Stanford, então chefe dos mecânicos da Williams, acrescentou ao Livio: “Nós saímos dos boxes com a bandeira da Inglaterra, da Williams, e da França, do motor Renault, para celebrar a vitória, no muro dos boxes”, conta. “Estávamos a espera de Nigel e quem passou foi Nelson. Olhamos um para a cara do outro. Disse ao rapaz do meu lado que não havia visto Nigel passar e perguntei se ele viu. Estávamos confusos. Quem, afinal, havia vencido? Poucas pessoas do time dispunham do rádio. Como chefe dos mecânicos eu não tinha. Foi vergonhoso para nós enrolar as bandeiras e regressar aos boxes. Senti uma sensação horrível de derrota humilhante”.


O problema foi que o motor do FW14 ficou muito tempo funcionando em regime de baixa rotação diante da soberba de Mansell. O piloto andou tão devagar na última volta, já comemorando, que o alternador não enviou carga à bateria e o motor simplesmente apagou.

Após a prova, na entrevista coletiva, o piloto brasileiro disse que quase teve um orgasmo quando viu o carro de Mansell parado no local.

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